A tragédia do Masp vem sendo escrita há muitos anos. Assalto, apagão, projetos de exposições ruins, nenhum dia de gratuidade para ir ao museu além de um marasmo institucional O descaso da administração com o internacionalmente venerado Museu de Arte de São Paulo teve, para mim, o seu ápice com esse novo projeto de reforma do prédio ao lado. A matéria do Silas, publicada hoje na Folha, mostra que os interesses privados estão indo muito além da publicidade, interferem também no projeto insituicional. Vou reproduzir parte da matéria para que a coisa fique mais clara:
Na avenida Paulista, ao lado do edifício desenhado por Lina Bo Bardi onde funciona o maior museu da América Latina, um velho prédio de apartamentos, abandonado há 20 anos, passa por reformas para abrigar um polêmico anexo.
Polêmico porque faz quatro anos que a empresa de telefonia Vivo doou R$ 13 milhões para que o Masp comprasse o prédio, pedindo em troca que se instalasse no topo dele uma antena gigantesca com um logotipo luminoso da marca.
Órgãos de defesa do patrimônio histórico então vetaram o mirante e Vivo e Masp travaram uma batalha na Justiça. Sem a torre, a telefônica queria de volta o dinheiro desembolsado. Em novembro passado, chegaram a um acordo.
E só em janeiro deste ano foi aprovada a captação de mais R$ 15 milhões pela Lei Rouanet para transformar o Dumont-Adams em Masp Vivo. Sem o mirante da discórdia, a empresa se contentou em batizar o espaço pelos próximos 25 anos.
No térreo, ficará uma galeria de exposições temporárias patrocinadas pela Vivo. Também vai migrar para lá a área administrativa do museu. Os sete andares acima vão abrigar uma escola de pós-graduação em museologia, história da arte e restauro que o Masp deve criar.
Acima da laje original do edifício, um cubo branco, com pé-direito de 15 metros, deve receber outras mostras. No topo de tudo, querem construir um café, que já conta com um patrocínio de R$ 2 milhões da Nestlé.
Bem, se não bastasse todo esse rolo, a Vivo, terminada a reforma do edifício, se comprometeu a doar uma grana para, atenção: criar um sistema de visitas guiadas por celular, mostras de arte tecnológica feita com os aparelhos e até mesmo a exposição de obras do Masp na galeria da sede da Vivo, na zona sul da cidade.
Se isso fosse no Mis eu entenderia, agora, o que arte tecnológica tem a ver com a proposta do Masp? Parece piada. Então porque uma companhia de celular patrocina, a arte tem que se voltar a isso. O que não falta hoje em dia são projetos para arte em celular, isso porque o dinheiro vem dessas companhias. Eu tô louca pra ver essa visita guiada por celular, acho que na verdade a próxima proposta é você ver o acervo via o seu celular, de qualquer lugar do mundo, já pensou, nem até o museu precisa ir mais. Além dos fundos de tela com obras de arte, vá correndo até a loja vivo e peça já o seu Portinari em fundo de tela.
Vou postar uns desenhos da Lina, dos projetos dela para o Masp, só pra recordar um pouco.